FÍSICA MÉDICA – PROTEÇÃO RADIOLÓGICA NOS HOSPITAIS E CLÍNICAS

Engª Manuela Marins Góis

Membro NDPEC

Especialista em Engenharia Clínica

Em todos os Hospitais e clínicas que possuem equipamentos de radiologia é necessário que tenhamos um programa de física médica, realizando testes periodicamente referente as funcionalidades e segurança dos equipamentos, garantindo com que o paciente realize um exame seguro e sem riscos a exposições radiológicas excessivas.

Você já ouviu falar em Programa de Proteção Radiológica?

De acordo com a RDC  611 – Art. 42: “O serviço de saúde que utiliza radiações ionizantes para fins diagnósticos ou intervencionistas deve implementar Programa de Proteção Radiológica que contemple, no mínimo, medidas de prevenção, de controle e de vigilância e monitoramento, para garantir a segurança e a qualidade dos procedimentos radiológicos.”

A exposição à radiação deve ser rigorosamente controlada para minimizar riscos e prevenir danos à saúde a longo prazo. Existe uma documentação estruturada de testes a serem realizados nos equipamentos e suas periodicidades.

Entrevistamos o físico Miguel Marinho Nunes, da empresa Alpha Radioproteção para compartilhar este assunto, informando as diretrizes e normas de proteção, a importância das documentações e sua vivência com da aplicação da física médica com a Radioproteção nos Hospitais e Clínicas.

  1. 1. Como minimizar a exposição à radiação durante exames radiológicos?

R: A melhor maneira de garantirmos que o princípio ALARA (do inglês as low as reasonably achieavable ou tão baixo quanto razoavelmente exequível) seja respeitado é através da elaboração de protocolos de exames adequados, um treinamento constante da equipe e testes de garantia da qualidade periódicos nos equipamentos emissores de radiação X evitando assim problemas como superexposição ou reexposição de pacientes.

2. Qual é a importância do uso de dosímetros para profissionais de radiologia?

R: O uso dos dosímetros é essencial, tanto para o profissional quanto para a clínica ou hospital que o contrata. Uma vez que o dosímetro é a forma que temos de quantificar/mensurar a quantidade de radiação a que está exposto um profissional e mais importante do que a quantificação é o fato de sermos alertados e podermos montar um plano de ação tanto para entender o motivo da dose elevada quanto a elaborar protocolos para evitar que este evento não se repita.

3. Qual a localização ideal para a guarda dos dosímetros?

R: Os dosímetros tem de ser guardados em um local que denominamos como área livre, ou seja, uma área em que não exista risco nenhum de uma eventual exposição. Normalmente recomendamos que eles sejam guardados em uma sala administrativa, próximo ao relógio de ponto ou ao vestiário da equipe.

4. Que tipos de equipamentos de proteção individual (EPIs) são recomendados para profissionais que trabalham com radiação?

R: Depende muito da função que ele está ocupando no momento, em salas de raios X, tomografia e mamografia não é necessária a utilização de vestimentas de proteção individual sendo necessário apenas o IOE (Indivíduo Ocupacionalmente Exposto) ficar atrás da blindagem do comando. Em salas de hemodinâmica, centro cirúrgico ou em caso de injeção manual de contraste é recomendável o uso do protetor de tireóide e avental plumbífero.

5. Quais os testes necessários para garantir que o equipamento radiológico esteja operando com segurança e dentro das normas da RDC 611? Nos dê um breve resumo sobre eles.

R: Existe uma gama de testes com propósitos e periodicidades diferentes, exigidos pelas instruções normativas 90 (raios x), 91 (equipamentos intervencionistas), 92, (mamografia), 93 (tomografia), 94 (odontológico extraoral), 95 (odontológico intraoral), 96 (ultrassonografia) e 97 (ressonância magnética). Mas podemos dividir esses testes como:

– Controle da qualidade onde avaliamos parâmetros de funcionamento do equipamento como a tensão real do feixe;

– Testes dos VPI’s onde avaliamos a integridade das vestimentas;

– Testes de levantamento radiométrico para avaliar a blindagem da sala de exames;

– Testes de fuga do cabeçote para avaliar a blindagem do próprio equipamento em direções aonde o feixe não auxilia na produção de imagens.

6. Qual a periodicidade deve ser realizado os testes?

R: Existem testes semanais nas modalidades de tomografia e ressonância magnética que normalmente são feitos pela própria equipe do hospital ou clínica, mensais na mamografia para avaliar a qualidade da imagem, semestrais/anuais para a garantia do controle da qualidade do equipamento como um todo e quadrienais como levantamento radiométrico e fuga do cabeçote.

7. Quais são as principais considerações na escolha de materiais de blindagem para equipamentos médicos?

R: No momento do cálculo de blindagem é feita a consideração para diferentes materiais como chumbo, barita e concreto, mas a escolha do material normalmente é feita seguindo parâmetros individuais de cada serviço como custo, quantidade necessária de blindagem, etc. Já tivemos clínicas que optaram por fazer uma mescla de dois materiais para blindagem por causa do peso e custo envolvido.

8. Como a formação e treinamento de pessoal podem contribuir para a radioproteção?

R: O profissional que tem ciência dos riscos envolvidos no uso da radiação ionizante e as possíveis formas de proteção como padronização de um protocolo de técnicas para a redução das taxas de exposição dos pacientes e consequentemente da equipe, tem um olhar mais cuidadoso na hora de fazer o exame o que acaba acarretando em uma redução de dose tanto nos pacientes quanto nos membros da equipe.

9. Quais são os efeitos da radiação no corpo humano, especialmente com exposições repetidas?

R: Quando falamos de efeitos da radiação em serviços de radiologia é algo difícil de mensurar pois trabalhamos com o que chamamos efeitos estocásticos (estado indeterminado, com origem em eventos aleatórios) e variam muito de pessoa para pessoa e da dose a que as pessoas foram expostas sendo difíceis de relacionar uma exposição a um efeito como um câncer tardio. Em equipamentos intervencionistas (Angiógrafo, Ressonância, Tomógrafo e outros..) que trabalhamos com doses maiores, conseguimos perceber em alguns casos os efeitos que chamamos de determinísticos, onde é possível relacionar diretamente o efeito ocorrido com a dose a que o paciente foi exposto podendo causar uma catarata, queda de cabelo ou queimaduras por radiação.

10. Quais são os desafios mais comuns na implementação de práticas de radioproteção em hospitais?

R: Infelizmente o maior desafio que encontramos está relacionado aos custos envolvidos no processo de implementação. Temos um excelente feedback de hospitais que implementaram práticas de radioproteção como os controles da qualidade, reduzindo tempo de máquina inoperante visto que não conformidades apontadas nos controles de qualidade podem ser corrigidas em uma manutenção preventiva ao invés de ser necessária uma manutenção corretiva do equipamento no momento em que ele apresenta um problema grave.

11. Como as tecnologias digitais impactam a radioproteção em comparação com os filmes radiográficos tradicionais?

R: Inicialmente tivemos uma curva longa de aprendizado uma vez que os filmes radiográficos ou melhor dizendo, o processamento úmido de imagens radiológicas exigia um maior cuidado com as técnicas utilizadas sendo impossível a correção da imagem posterior à exposição do filme. Atualmente os sistemas de CR e DR permitem um pós processamento da imagem mesmo em casos que a técnica utilizada tenha sido insuficiente por sub ou sobre exposição, permitindo que imagens que antes seriam descartadas sejam reaproveitadas mesmo com as técnicas inadequadas. Além disso as placas de fósforo utilizadas nos CR tinham uma sensibilidade à radiação menor do que o sistema écran-filme sendo às vezes necessária a correção das técnicas para uma com uma dose maior do que anteriormente. Os sistemas do tipo DR são muito mais sensíveis e normalmente isso impacta de forma positiva na redução da dose durante os exames.

12. Quais eventos adversos já encontrou pela ausência de um Programa de Radioproteção?

R: O evento adverso mais comum encontrado é a utilização de técnicas inadequadas nos equipamentos não por erro da equipe, mas por uma limitação do próprio equipamento, visto que o equipamento se encontrava extremamente descalibrado obrigando aos técnicos adaptar as técnicas utilizadas para que as imagens pudessem ser minimamente aproveitáveis em termos de possibilidade de laudo.

13. Quais inovações recentes na área de radioproteção você considera mais promissoras?

R: A modalidade de treinamento EAD que usamos na nossa empresa Alpha, facilitou muito o acesso às equipes de treinamentos que anteriormente eram restritos a poucos membros das equipes. Além disso a evolução nos equipamentos que utilizamos para fazer nossas medidas nos testes de controle da qualidade agilizaram e trouxeram uma confiabilidade muito maior com uma maior segurança para os físicos que fazem as avaliações e os engenheiros que precisam solicitar a manutenção dos equipamentos. A evolução nos sistemas de inteligência artificial também tem apresentado resultados promissores quando falamos de exames complexos como tomografias ou ressonâncias possibilitando uma redução no tempo de exame sem a perda de informações importantes.

Em síntese, podemos concluir que a radioproteção é muito importante na garantia da segurança nas atividades que envolvem radiações ionizantes. A adoção de práticas rigorosas, como o uso adequado de equipamentos de proteção, o monitoramento da exposição e o cumprimento das regulamentações, é essencial para reduzir os riscos à saúde de trabalhadores e da população em geral. Além disso, a conscientização e o treinamento contínuo são indispensáveis para que todos os envolvidos compreendam a importância da radioproteção e a apliquem corretamente. Dessa forma, a radioproteção não apenas assegura a integridade física, mas também contribui para a construção de uma cultura de responsabilidade e prevenção, fundamental para o uso seguro e benéfico das radiações ionizantes.

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Roberto de Souza

Membro NDPEC

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